O governo da Nigéria anunciou novas medidas de segurança após uma sequência de sequestros e ataques armados no país, incluindo o rapto de mais de 300 crianças em idade escolar. A gravidade dos episódios, somada à confirmação da morte de um sacerdote sequestrado com a esposa, levou o presidente Bola Ahmed Tinubu a decretar estado de emergência nacional.
Em comunicado divulgado nesta semana, Tinubu determinou a contratação de 20 mil novos policiais, além dos 30 mil previamente autorizados, com envio imediato para regiões afetadas pela violência, segundo informou o grupo Christian Solidarity Worldwide (CSW), sediado no Reino Unido. O presidente também aprovou a incorporação de guardas florestais pelo Departamento de Serviços Estaduais e afirmou que as agências de segurança estaduais receberão apoio federal.
Tinubu ordenou ainda a retirada de policiais das funções de escolta de autoridades e sua realocação para atividades operacionais. Entre as medidas anunciadas estão a proibição do pastoreio livre de gado e a orientação para que pastores entreguem armas ilegais. Locais de culto receberam recomendações formais para contratar segurança privada, e governos estaduais foram instruídos a evitar a instalação de internatos em áreas remotas sem proteção adequada.
A morte do reverendo Edwin Achi, da Diocese Anglicana de Kaduna, foi confirmada na quarta-feira, 27 de novembro, um mês após seu sequestro em 28 de outubro na localidade de Nissi, no estado de Kaduna. Ele e sua esposa, Sarah, haviam sido levados por homens armados. Em nota oficial, a Igreja da Nigéria afirmou: “Sua partida é uma perda dolorosa para toda a Diocese, o clero, a família da igreja e todos aqueles que foram abençoados por seu fiel ministério”. Sarah Achi permanece em cativeiro, e a filha do casal também foi sequestrada, embora não apareça nas imagens divulgadas pelos sequestradores.
O caso repercutiu durante um debate no Senado sobre a escalada da violência no país. Parlamentares classificaram os sequestros como terrorismo e defenderam a pena de morte para responsáveis. Legisladores manifestaram preocupação com falhas de inteligência, equipamentos insuficientes e relatos de infiltração de extremistas nas forças armadas.
O ex-vice-presidente da Câmara, Idris Wase, afirmou que a região centro-norte concentra mais da metade dos episódios de violência e alertou que nomes ligados ao Boko Haram foram identificados em listas de recrutamento do exército e da polícia.
Entre os casos citados está o sequestro, em 21 de novembro, de 303 alunos e 12 funcionários da Escola Primária e Secundária Católica de Santa Maria, na comunidade de Papiri, estado de Níger. A maioria das vítimas tinha entre 9 e 14 anos. Homens armados em motocicletas invadiram os dormitórios antes do amanhecer. A CSW informou que 253 estudantes seguem desaparecidos. Três dias depois, Anthony Musa, pai de três crianças sequestradas, morreu de ataque cardíaco, possivelmente desencadeado pelo trauma.
Outros episódios registrados nas últimas semanas incluem o sequestro, em 17 de novembro, de 26 meninas em uma escola pública de Maga, estado de Kebbi. Tinubu informou, em 25 de novembro, que 24 delas foram libertadas, sem divulgar detalhes. Em 21 de novembro, homens armados atacaram um culto religioso em Eruku, estado de Kwara, deixando dois mortos e sequestrando 38 pessoas, posteriormente libertadas. Na quarta-feira à noite, residências em Gidan-Bijimi, no Conselho da Área de Bwari, foram invadidas, resultando no rapto de seis meninas e de um adolescente de 16 anos. No mesmo dia, cerca de 20 agricultores foram sequestrados em Unguwan-Kawo, no estado de Níger.
Especialistas em segurança relacionam o avanço dos sequestros à atuação de grupos extremistas, gangues criminosas e milícias armadas Fulani. O Grupo Parlamentar Multipartidário para a Liberdade Internacional de Religião ou Crença do Parlamento do Reino Unido afirmou que comunidades cristãs no norte da Nigéria são alvo frequente de ataques, atribuídos ao Boko Haram, ao ISWAP e a extremistas Fulani, de acordo com informações do The Christian Post.
O relatório Lista Mundial de Vigilância 2025, da organização Portas Abertas, destaca também a atuação do grupo Lakurawa, ativo no noroeste e associado à JNIM, afiliada da Al-Qaeda no Sahel. Segundo o documento, dos 4.476 cristãos mortos por sua fé no período analisado, 3.100 estavam na Nigéria.
Fonte: Tiago Chagas/https://noticias.gospelmais.com. Imagem: Divulgação/AFP.
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